maio 09, 2013

preciosidade

"De manhã cedo era sempre a mesma coisa renovada: acordar. O que era vagaroso, desdobrado, vasto. Vastamente ela abria os olhos.
Tinha quinze anos e não era bonita. Mas por dentro da magreza, a vastidão quase majestosa em que se movia como dentro de uma meditação. E dentro da nebulosidade algo precioso. Que não  se espreguiçava, não se comprometia, não se contaminava. Que era intenso como uma joia. Ela.
Acordava antes de todos, pois ir à escola teria que pegar um ônibus e um bonde, o que lhe tomaria uma hora. O que lhe daria uma hora. De devaneio agudo como um crime. O vento da manhã violentando a janela e o rosto até que os lábios ficavam duros, gelados. Então ela sorria. Como se sorrir fosse em si um objetivo. Tudo isso aconteceria se tivesse a sorte  de "ninguém olhar para ela"." Clarice Lispector





 sempre, sempre Clarice. É planejar fotografar sua rotina e se deparar com um texto descrevendo exatamente o que você queria. Sou eu a cada linha.

3 comentários:

Mariana Tavares disse...

Às vezes sinto-me culpada por amar literatura, ser brasileira, ser mulher, e nunca ter lido Clarice. Esse trecho só me faz lembrar de que preciso consertar isso. Logo.

Helena disse...

Que pintou esse quadro na parede?
E poxa, deveria postar sua fotinho da edição de especial dos 200 anos do Sense&Sensibility. QUASE não fiquei curiosa ;)
Beijos

Helena - https://hassdc.wordpress.com

Nathália Carvalho disse...

Clarice é sempre linda né?!
Adorei essa parte: "O que lhe daria uma hora. De devaneio agudo como um crime. O vento da manhã violentando a janela e o rosto até que os lábios ficavam duros, gelados. Então ela sorria. "