Há alguns anos cismei de assistir
todos os 23 filmes oficiais do 007. Feito isso, surgiu a vontade de ler os livros
escritos por Ian Fleming, criador da série. Comprei o
primeiro da série, Cassino Royale.
Assim como no filme, a missão de
Bond é atrapalhar os planos de Le Chiffre de reaver o dinheiro do sindicato
comunista num jogo de bacará, que ele havia perdido num negócio arriscado de
prostituição na França. James Bond conta
com a ajuda da enigmática Vesper Lynd, do leal Mathis e o agente da CIA, Felix
Leiter.
Eu não gostei do jeito que a
história foi escrita. Achei superficial e acelerada. Fiquei extremamente
desapontada ao descobrir a verdadeira personalidade de Bond. Claro que eu não
poderia esperar outra coisa de um autor dos anos cinquenta, que escreve sob a
perspectiva de um homem: James Bond é um machista.
Vesper Lynd é caracterizada como
uma sentimental e, por isso, péssima para o trabalho de espionagem. Ela é
reduzida a simples desejo e posse. E quando começa a ficar histérica, eis que: “Vesper
continuou tentando justificar sua atitude até deixar Bond com vontade de lhe
dar umas palmadas e lhe dizer para relaxar e contar a verdade”. Vou relaxar com
palmadas, com certeza.
Tudo bem que Vesper estava
acabando com a paciência de todo mundo com esse joguinho de conto e não conto,
mas vamos levar em conta que ela estava sofrendo de um conflito emocional
interno e que Ian Fleming exagerou muito ao salientar essa característica feminina.
Além de que, ela chorava pelos cantos o dia inteiro e fazia amor á noite como
se nada estivesse acontecendo. Faz sentido? Nops.
Mas, nada, eu digo, nada
justifica o seguinte trecho:
“Agora sabia com certeza que ela era uma fera na cama, mas a
conquista de seu corpo, por causa do enigma que carregava, teria sempre o doce
tempero do estupro. Fazer amor com Vesper seria sempre uma viagem empolgante
sem o anticlímax da chegada. Ela iria se submeter a todas as intimidades da
cama com avidez e prazer, mas sem jamais permitir que ela própria fosse
possuída.”
Tive vontade de jogar o livro
longe. Meu único consolo é que James é
torturado lindamente e fica um tempo broxa.
Depois, quando você assiste ao
filme que deu continuidade a esse, o Quantum of Solace, você pensa que Bond
quer vingar a morte da amada Vesper. Só que não. É só orgulho ferido porque ela
era agente dupla e resolve atacar “o braço que empunha o chicote e a arma”, a
Smerch.
No filme Skyfall, Bond é alvejado
por Moneypenny, a agente que o acompanha na tal missão. Quando eles se
reencontram, no escritório da MI6, a postura de Bond é de que tudo está certo,
beleza, é difícil acertar um tiro nessas circunstâncias mesmo, relaxa. Depois
de ler Cassino Royale, pude perceber que isso é o que ele fala, mas aposto que
pensa: você não serve pro campo, ufa, ainda bem que vai virar secretária, estou
salvo de ser alvejado por uma mulher outra vez.
Perdi total interesse nos outros
livros da série. Vou continuar querendo ver os próximos filmes porque são
ótimos filmes de ação (pelo menos os três últimos) e reduzir o personagem a
puro objeto também.
Caso alguém se interesse, comprei o livro pela estante virtual e como era exemplar novo, o preço foi igual a de uma livraria.
Da editora BestBolso, tradução de Sylvio Gonçalves, 173 páginas.
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