julho 28, 2010

Pensamento nº9

Hey you, agora eu tenho três pessoas por quem rezar. Quando eu gostaria que fosse nenhuma.
A morte parece que sempre me pega pela manhã. Sempre me acorda. Na primeira vez, eu era apenas uma garotinha, não compreendia, mas já sentia.
Eu não sabia que horas eram, não lembro se era costume meu levantar a noite e ir pro quarto dos meus pais. Eu não encontrei ninguém e no caminho de volta deparei com meu primo dormindo no sofá.
Ele me contou o que tinha acontecido e como qualquer menina, abri o berreiro. Acordei minha irmã e agora eram duas. E ele teve que subir quatro andares com duas crianças choronas no colo. Não fui ao enterro. Sempre senti falta. E ás vezes chorava.
Essa morte foi a que mais doeu. Doeu porque eu não tenho nada além de vídeos para lembrar. Dói.
A segunda vez foi em março. Terça-feira. Dia de aula. Eu tinha quinze anos. Ataque cardíaco. Minha mãe me acordou. Acordou-me por último. E a primeira coisa que pensei foi nas crianças. Que injusto, não é? Ele já era idoso e não ligava para saúde, mas eu nunca esperava. Aliás, você nunca espera. Ela vem e ponto. Você vai me achar maluca, mas eu tirei uma foto. Excluí eventualmente. E o que dói não foram os quinze anos, não foram os um real todos os dias, não foram os churros para depois do almoço, não foi aquele abraço – memorizado em foto, ainda bem. O que dói era minha preguiça de visitar, minha falta de consideração, meu um mês sem ver.
E de repente tudo que me resta é a lembrança. E a culpa. Fui ao enterro e disse adeus.
A terceira vez foi segunda às 23h mais ou menos. Eu com dezessete. Ele com trinta e seis. Atropelado. Carol me acordou ás seis. Escutei o telefone tocar ainda dormindo e quando me dei conta já tinha parado. Fui a última, aqui em casa, a saber. Nos primeiros minutos, acho que estava ainda acordando e digerindo a informação, eu apenas arregalava os olhos.
Depois, pensei na filha. E isso sim fez rolar a primeira lágrima.
Como você pode fazer uma coisa dessas? Se realmente existir. Como pôde tirar o único pai que ela já teve? Raiva. Como pôde fazer isso com pessoas que não mereciam? Como...
Está feliz por ela ter tido um pai biológico babaca e agora tem que viver sem nenhum? Está feliz por ele ser o único filho? Acha que eles deveriam ter tido mais? E aí? Eles tiveram o suficiente. Babaca.
Sabe o que senti? Senti como se o ar estivesse indo embora. Senti que naquele corpo, que outra hora respirava o ar da vida, agora suga o ar da morte. E leva o ar daquela sala. Olhei pro teto e para todos os cantos e imaginei ele olhando seu próprio corpo, tentando imaginar o que aconteceu e por quê. E a única coisa que pude dizer foi: acontece. Fui ao enterro e disse adeus.
De fato acontece. Acontece uma ova.
A morte é uma coisa tão normal. Todos os dias se morre. A única certeza é o agora. E porque uma coisa tão banal ainda nos surpreende? A única certeza é a morte.
E eu ainda não acredito em você. Caiu no meu conceito. Rezo pro desconhecido. Ah, ainda não compreendo. Ponto.

Um comentário:

Nathália Carvalho disse...

Mas mas...quem foi? Eu conheço? É, num tive tantas experiências mas o susto e a culpa são sempre as mesmas. Eu ainda tenho medo dela, não por mim, pelos que eu gosto sabe?! Não dá pra entender meesssmoooo