junho 12, 2012

a bagaceira


Ganhei o livro A bagaceira de meu pai no ano passado. Lógico que sabia que seria uma leitura difícil, mas isso não me assusta mais!
José Américo de Almeida foi um escritor (romancista, ensaísta, cronista e poeta), político, advogado, professor universitário, folclorista e sociólogo brasileiro –ufa!
Viveu na Paraíba e lá foi governador e fundador da Universidade Federal da Paraíba, sendo seu primeiro reitor.
                Sei que os antenados em história do Brasil irão reconhecer esse nome – até eu o achava estranho, até pesquisar. Acontece que Américo foi um dos protagonistas do golpe do Estado Novo, em 1937! Ele era o pré-candidato à presidência da República, apoiado por Getúlio Vargas para as eleições de 1938. Porém, Vargas deu o golpe alegando haver um plano comunista para a tomada do poder. O plano, conhecido como PLANO COHEN, não passou de uma grande mentira e o período ditatorial, ou Estado Novo, durou até 1945. 



                A Bagaceira, romance de 1928, é considerado o marco inicial do chamado Romance de 30: período da literatura brasileira de produções ficcionais, mas de inspiração realista, onde há o predomínio da temática rural e o retrato da realidade em seus elementos históricos e sociais.
O livro conta a história de uma fazenda na Paraíba que recebe uma família de retirantes, com aparência cadavérica, atingidos pela seca de 1898.
O título faz alusão ao lugar onde se junta o bagaço da cana e onde se passa várias cenas do romance.

“Párias da bagaceira, vítimas de uma empurrada organização do trabalho e de uma dependência que os desumanizava, eram os mais insensíveis ao martírio das retiradas.
A colisão dos meios pronunciava-se no contato das migrações periódicas. Os sertanejos eram malvistos nos brejos. E o nome brejeiro cruelmente pejorativo.”

                A história se concentra na relação de Lúcio, filho do patrão, e da retirante acolhida, Soledade. Pode-se dizer que é uma relação de amor idealizado, nunca conquistado. Lúcio, para mim, é um maricas! Não consegue se decidir entre uma lembrança, em tornar real ou respeitar a honra de Soledade, já não tão bem vista na fazenda.  
E ele é um babaca mesmo, porque enquanto não se decide, outro vai lá e bimba! faz o que ele não teve coragem. E, quando finalmente toma vergonha na cara, é tarde demais. Pobre Lúcio.
                Contudo, pode ser que Soledade tenha sido enganada, forçada, mas ainda acho que podia ter resistido, justamente porque sabia do amor de Lúcio. Ainda mais com o que acontece no final; ela aproveitou a situação e mesmo assim teve um final de dar dó. E, minha raiva por ela passa por alguns instantes.
Lúcio e Soledade possuem um passado em comum e isso afeta o futuro deles, melhor dizendo, de todos ao redor.  
                Eu tenho que reconhecer que me perdi várias vezes nos diálogos e só entendia quando o narrador explicava. Isso porque Américo escreveu os diálogos exatamente como o povo sertanejo fala: cheio de gírias, metáforas e comparações! E, para mostrar que eu não minto, vai aí um trecho do diálogo:

“As raparigotas encolhiam-se, apertando o coração que ia saltar-lhes pela boca:
- Não me frutuque!... Que abuso!... Não me alcatruze!...
- Arta! Não me pinique!... Me largue de mão!...
(...)
- Já se viu que empacho!... Ora, que peitica!... Há quem aguente este azucrim?...
(...)
- Como ele está fiota!... Todo perequeté...
- Olha esse remelexo, cabelo de aratanha!”

E tudo isso aconteceu num baile!

                Eu adorei A Bagaceira! Se você tiver um pouco de paciência irá descobrir um ótimo romance, com surpresas e reviravoltas.

“Moço, sertanejo não se adoma no brejo. O sertão é para nós como o homem malvado pra mulher: quanto mais maltrata, mais se quer bem. Aperreia, bota pra fora e, na primeira fuga, se volta em cima dos pés. (...) E foi a seca que me deu coragem. Porque saber sofrer, moço, isso que é ter coragem.”

                Meu exemplar de A Bagaceira é uma edição crítica, da editora José Olympio. É uma edição comemorativa dos sessenta anos do romance (1928-1988). 

É isso. Bom resto de semana para todos. E, comentem! 

Um comentário:

Adriele disse...

O único livro que li sobre retirantes, foi um dos livros que estava na lista de material escolar da 5° ou 6° série. Chamava-se "Justino, o Retirante" e eu fiquei chocada numa parte em que ele come barro. Retirantes são muito sofridos, coitados! Caminhar pelo sertão, sem água e comida...

Falando em retirantes, pelo que vi nos comerciais de chamada para a novela Gabriela, parece que a personagem principal tem sua fase retirante. O ideal seria que eu lesse o livro, já que a novela parece que não vai me agradar, mas achei o cenário, roupas e penteados muito bem feitos. Até me lembrou um pouco Cordel Encantado...

Já Lúcio do qual falou, parece ser realmente um marica, ora, deixou o tempo passar ao invés de tentar conquistar Soledade. Bem feito para ele! Ah, este diálogo é mesmo muito complicado de se entender, muito "perequeté" para o meu gosto, rs. E qual foi o final da Soledade? Você disse que foi de dar dó, mas não deu nenhuma dica do que aconteceu com ela. :/

Agora, falando do autor, também fico impressionada com o tanto de profissões desse pessoal. O Wikipédia sempre costuma listar um monte de profissões. Nunca pensei nisto, mas será que eles se frustravam com a profissão e resolviam procurar outra?

Enfim, uma boa semana para você também!