Recentemente vi o filme “Hysteria”,
de Tanya Wexler (que não dirigiu nada de muito importante). O filme conta a
história, nada glamorosa e erótica, da invenção do vibrador. Vi falando desse
filme na TV, não lembro em que programa, e achei interessante e resolvi baixa-lo.
Em meados de 1873, o
recém-formado médico Mortimer Granville possui ideias um tanto inovadoras para
a época, como, por exemplo, germes existem e por isso deve-se trocar as
ataduras sempre; tratamento com sanguessugas? Só se você quiser matar o
paciente. Mas é claro que nenhum médico retrógrado e conservador irá dar
credibilidade a um jovem médico com ideias revolucionárias. Mortimer encontra-se desempregado.
Ele sai à procura de emprego e
acaba encontrando num consultório particular, que atende exclusivamente mulheres
que sofrem de uma doença chamada histeria.
Entende-se por histéricas,
mulheres com os nervos exaltados, nervosas, agressivas, insatisfeitas, ansiosas
e com pensamentos profanos. O tratamento? “Banhos mornos, banhos gelados, jatos
de água, hipnose e até passeio a cavalo.” Porém, o Dr. Dalrymple, médico
experiente na área, prefere uma abordagem mais direta: a massagem na vulva.
E, é claro que as mulheres,
depois desse “tratamento” sentiam-se muito melhores, livres de pensamentos
indiscretos e mais calmas. E as reações dessa massagem, como a verbalização, respiração
ofegante, pele ruborizada e tensão, seriam uma resposta involuntária e normal
ao tratamento. A explicação é essa: “Receio que a estimulação externa faça uma
reação de dor e prazer, dando início a este paroxismo histérico e colocando o útero
de volta, em sua posição normal. O órgão feminino é como sabe, incapaz de
experimentar qualquer sensação de prazer, sem de fato, a penetração do órgão masculino.”.
Em casos mais sérios de histeria, seria preciso internar a mulher e até a
castração. Parece hilário, mas acredito que tenha sido esse o pensamento da
época.
Agora, imagine um jovem e
bonito médico massageando vulvas de senhoras insatisfeitas. Imaginou? Bem, é
isso mesmo o que acontece: a clientela aumenta; mais mulheres, mais massagens e
uma tendinite na mão do Dr. Mortimer.
É aí que segurando um
espanador elétrico, inventado por seu amigo, Edmund St. John-Smythe, tem a
ideia de que esse invento teria mais sucesso se usado de outra forma. Foi
segurando-o ligado e experimentando uma sensação de calafrios que percorreram
seu corpo, que o espanador teria mais sucesso se usado em senhoras que sofriam
de histeria, se usado para massagear a vulva. Uma grande revolução na área
médica, é claro!
Paralelo à história da criação
do vibrador, há a história da filha mais velha do Dr. Dalrymple. Charlotte
Dalrymple é uma feminista ferrenha com pensamentos socialista, mantendo um
abrigo para os pobres, desafiando o pai e, claro, diagnosticada com histeria. Ela
pensa que o tratamento usado pelo pai e o pensamento da época não passavam de
bobagens. Para ela, basta conversar com as pacientes para descobrir a real
causa da insatisfação: são ignoradas pelo marido e sexualmente insatisfeitas.
E como não podia faltar num
filme, Dr. Mortimer e Charlotte se conhecem, se amam e fim. É com a ajuda dos pensamentos feministas de
Charlotte que Dr. Mortimer consegue entender melhor a tal histeria feminina, chegando
à conclusão de sua inexistência. E, sua invenção acaba se popularizando com o
maior emprego da eletricidade para fins domésticos e são inventados, a partir
daí, diversos modelos de vibradores para o uso domestico.
Acho que o ponto mais alto do
filme e da invenção do vibrador seja a afirmação da mulher e a sua libertação
sexual. A luta pelo voto, por exemplo, teve início na mesma época.
Li uma crítica do O Globo
dizendo que o filme era chato e em época de 50
Tons de Cinza, era um filme entediante, com nenhum pornô soft como esperado
e um romancezinho. Não sei o que outros críticos acharam, mas acho que tentar
comparar o filme à literatura vazia (baseio minha opinião nas resenhas que li
sobre o livro de E. L. James) não é certo. Eu não vi o filme esperando um pornô
soft, muito pelo contrário; eu já sabia que se tratava de um filme leve, bem
humorado. E, enquanto assistia, percebi que se tratava mais da libertação
sexual feminina do que de mulheres experimentando o vibrador e proporcionando
cenas de prazer.
Uma banana para o crítico
idiota.
Depois de ler o que uma amiga
postou no facebook, descobri-me como feminista.
"A idéia de ter um filho homem era como a esperança de desforra de sua impotência passada. Um homem, pelo menos, é livre; pode percorrer as paixões e outros países, atravessar os obstáculos, buscar os prazeres mais distantes. Mas uma mulher está sempre presa. Inerte e flexível ao mesmo tempo, têm contra si as fraquezas da carne e as imposições da lei. Sua vontade, como o véu da cabeça, estremece a todos os ventos, há sempre um desejo que atrai e uma convenção que a impede."(Gustave Flaubert)
Se feminismo é isso, é lutar
contra as fraquezas da carne, imposições da lei ou da moral, eu concordo
veementemente. Não tem nada mais horripilante do que não poder ser livre mesmo
tendo toda a liberdade.
Eu quero ser livre para não
querer pentear o cabelo, não sair do pijama, não depilar a perna, não querer
sair numa sexta à noite, cortar o cabelo curtinho, não fazer as unhas e deixar
o esmalte descascar até não poder mais e também quero ser livre para mudar de
ideia e de gosto e fazer tudo ao contrário do que eu disse antes. Quero olhar
para o amor racionalmente, quero viver o amor dolorosamente apaixonada, quero
ser a mulher que eu quiser.
Sei também, que em muitos casos, a luta pelos direitos da mulher é totalmente diferente da minha. Eu vivo numa sociedade que se diz igualitária e ás vezes esqueço que há mulheres passando por situações que eu nunca tive que passar, mas que lutam e vivenciam isso diariamente.
É chato chegar a conclusão de que tudo o que foi conquistado até agora não foi o mesmo para todo mundo.
Isto aqui é só uma parte da história.
2 comentários:
Nunca tinha ouvido falar no filme, fiquei com vontade de assistir, parece interessante..
Beijinhos
Am
http://www.vinteepoucos.com.br/
Muito interessante, Ceci! Não conhecia esse filme e gostaria muito de ver. Realmente em épocas antigas o sexo carregava muitoooo mais tabu do que agora e esse filme é um marco. As mulheres dificilmente tinham prazer com os homens que no geral achavam elas apenas como um símbolo de reprodução, a mucama e etc. Vi outro filme em que a mulher reclamava da mesma insatisfação. È sempre bom ver a libertação das mulheres na sociedade. São lutas que foram e ainda continuam.
Beijos!
Paloma Viricio- Jornalismo na Alma
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