agosto 16, 2013

outras considerações....

Já escrevi por aqui o quanto eu fico incomodada com o modo como a maioria de nós vivemos: num só fôlego e que Deus nos ajude a voltar pra casa inteiros e estáveis, numa crônica chamada “Mal do século”; um pouco mal escrita e  incompleta, assumo.
Mas, o que me faz voltar nesse assunto é que estava lendo crônicas de Cecília Meireles, para o meu seminário de Literatura Brasileira sobre a autora, e me deparo com “Dias Perfeitos”. Nessa crônica, Cecília disserta sobre o que realmente são dias perfeitos, recheados de pessoas dispostas a ajudar com gestos gentis e descompromissados e no final do dia nossa casa está inteira, aguardando para nos aconchegar.
Sei que disse que a ansiedade excessiva (nem sei se posso mais chamar disso) é um mal do século 21, porém, devo retratar-me. Ficou claro para mim que é um mal da modernidade, logo, algo de histórico-social, muito mais complexo do que uma simples reação à vida cotidiana.
A Era Moderna tem suas raízes no advento do capitalismo, com novos conceitos de criação e surgimento da individualidade pregada pelo romantismo – o “eu” como centro de todas as coisas e angústias.
Outro acontecimento histórico importante foi a Primeira Guerra Mundial. Se antes dela os mais velhos estavam acostumados a transmitir suas experiências de vida para os mais jovens através de histórias ou provérbios moralistas, depois da guerra esse costumo cessou-se. Os que voltavam não mais possuíam algo para compartilhar. Como escreveu Walter Benjamim em “Experiência e Pobreza”, “uma geração que ainda fora à escola num bonde puxado por cavalos viu-se sem teto, numa paisagem diferente em tudo, exceto nas nuvens, e em cujo centro, num campo de forças correntes e explosões destruidoras, estava o frágil e minúsculo corpo humano”, não é de se espantar que voltassem sem experiências comunicáveis, impulsionando o que Benjamin chamou de pobreza de experiência: liberta-se de toda experiência externa e interna, inserindo-se na nova ordem criada pelo capitalismo.
É a banalização da vida, é “sacrificar a melhor parte de sua humanidade para realizar todos os prodígios da civilização” (BENJAMIN); é a vida na multidão.
Encontramo-nos pobres e rodeados de pessoas cansadas, “fatigadas com as complicações infinitas da vida diária e que veem a finalidade da vida apenas como o mais remoto ponto de fuga numa interminável perspectiva de meios, surge uma existência redentora que em cada dificuldade se basta a si mesma, do modo mais simples e ao mesmo tempo mais cômodo” (BENJAMIN).

E, agora, de uma forma mais completa, consigo entender esse fenômeno social que tanto irrita.  Desejar que todos sejam cordiais no dia a dia, como desejou Cecília em sua crônica, talvez seja um pouco ingênuo. Digo, desde que não seja resultado de alienação – só consigo pensar numa gente que sorri o tempo todo e ignora a podridão debaixo do tapete (lembrei-me do filme O Show de Truman, não sei porquê). Que seja a volta da nossa humanidade perdida.

leia "Dias Perfeitos", aqui e "Mal do Século", aqui!

2 comentários:

Suzana disse...

Achei sua posição à respeito da crônica bem realista, se eu teria lido teria concordado plenamente como uma romântica...
Mas também não posso discordar, tens toda razão!

Adolecentro

Maria Eduarda {@mariaeduardamichael} disse...

Realmente é uma visão um tanto ingenua. Adorei a critica.
boa semana
;*

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