Já
escrevi por aqui o quanto eu fico incomodada com o modo como a maioria de nós
vivemos: num só fôlego e que Deus nos ajude a voltar pra casa inteiros e
estáveis, numa crônica chamada “Mal do século”; um pouco mal escrita e incompleta, assumo.
Mas,
o que me faz voltar nesse assunto é que estava lendo crônicas de Cecília
Meireles, para o meu seminário de Literatura Brasileira sobre a autora, e me
deparo com “Dias Perfeitos”. Nessa crônica, Cecília disserta sobre o que
realmente são dias perfeitos, recheados de pessoas dispostas a ajudar com
gestos gentis e descompromissados e no final do dia nossa casa está inteira, aguardando
para nos aconchegar.
Sei
que disse que a ansiedade excessiva (nem sei se posso mais chamar disso) é um
mal do século 21, porém, devo retratar-me. Ficou claro para mim que é um mal da
modernidade, logo, algo de histórico-social, muito mais complexo do que uma
simples reação à vida cotidiana.
A
Era Moderna tem suas raízes no advento do capitalismo, com novos conceitos de
criação e surgimento da individualidade pregada pelo romantismo – o “eu” como
centro de todas as coisas e angústias.
Outro
acontecimento histórico importante foi a Primeira Guerra Mundial. Se antes dela
os mais velhos estavam acostumados a transmitir suas experiências de vida para os
mais jovens através de histórias ou provérbios moralistas, depois da guerra
esse costumo cessou-se. Os que voltavam não mais possuíam algo para
compartilhar. Como escreveu Walter Benjamim em “Experiência e Pobreza”, “uma
geração que ainda fora à escola num bonde puxado por cavalos viu-se sem teto,
numa paisagem diferente em tudo, exceto nas nuvens, e em cujo centro, num campo
de forças correntes e explosões destruidoras, estava o frágil e minúsculo corpo
humano”, não é de se espantar que voltassem sem experiências comunicáveis, impulsionando
o que Benjamin chamou de pobreza de experiência: liberta-se de toda experiência
externa e interna, inserindo-se na nova ordem criada pelo capitalismo.
É
a banalização da vida, é “sacrificar a melhor parte de sua humanidade para
realizar todos os prodígios da civilização” (BENJAMIN); é a vida na multidão.
Encontramo-nos
pobres e rodeados de pessoas cansadas, “fatigadas com as complicações infinitas
da vida diária e que veem a finalidade da vida apenas como o mais remoto ponto
de fuga numa interminável perspectiva de meios, surge uma existência redentora
que em cada dificuldade se basta a si mesma, do modo mais simples e ao mesmo
tempo mais cômodo” (BENJAMIN).
E,
agora, de uma forma mais completa, consigo entender esse fenômeno social que
tanto irrita. Desejar que todos sejam
cordiais no dia a dia, como desejou Cecília em sua crônica, talvez seja um
pouco ingênuo. Digo, desde que não seja resultado de alienação – só consigo
pensar numa gente que sorri o tempo todo e ignora a podridão debaixo do tapete
(lembrei-me do filme O Show de Truman, não sei porquê). Que seja a volta da
nossa humanidade perdida.
2 comentários:
Achei sua posição à respeito da crônica bem realista, se eu teria lido teria concordado plenamente como uma romântica...
Mas também não posso discordar, tens toda razão!
Adolecentro
Realmente é uma visão um tanto ingenua. Adorei a critica.
boa semana
;*
Red Behavior
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