maio 16, 2012

Mar Morto

                 Nesses últimos três meses eu li três livros. Admito que poderia ter lido mais. Faltava-me tempo e disposição. 
Acabei de perceber que os três livros falam da morte, mas aprofundam-se em temáticas diferentes.  Poe fala do macabro, Amado do medo e Almeida da morte da alma.
O primeiro post será sobre o livro Mar Morto, de Jorge Amado.

                Jorge Amado não precisa de introdução, né?
                O romance Mar Morto, escrito em 1936 por um jovem Amado, ainda no começo da carreira, conta a história de amor de Guma e Lívia. O cenário é o cais da Bahia e para contar o amor dos dois é preciso contar a história dos homens do mar. 
O mar, que ás vezes dá e que ás vezes tira. O mar, reino de Iemanjá.
Iemanjá dos cinco nomes. Iemanjá que seduz os homens do cais e faz ser doce morrer no mar. 

"Assim Iemanjá é mãe e esposa. Ela ama os homens do mar como mãe enquanto eles vivem e sofrem. Mas no dia em que morrem é como se eles fossem seu filho Orungã, cheio de desejos, querendo seu corpo." 

Mar Morto é cheio de lirismo, considerado um poema em prosa e está entre os mais populares de Jorge Amado - foi traduzido para mais de treze idiomas. Foi adaptado para o teatro, rádio e história em quadrinhos. A música É Doce Morrer no Mar, de Dorival Caymmi, foi escrita a partir de um trecho do livro: "Um homem canta ao longe: É doce morrer no mar...".
A história de Guma e Lívia se desenrola na beira do cais. Guma possui um saveiro do qual tira o seu sustento. A vida dos dois não é nada fácil e Lívia vive sempre com o medo de seu marido nunca mais voltar e ficar pelas terras de Aiocá.
A morte, a miséria e os mistérios do mar fazem parte do cotidiano daqueles que vivem no cais. E, repetidamente, o destino desses homens são sempre os mesmos. É disso que Lívia teme; Lívia não foi feita para trabalhar na fábrica ou para se prostituir. Ela teme, assim, o dia que Guma ficará com Iemanjá.
Porém, é desse medo que Lívia suga toda a ânsia de viver. É no medo que ela encontra seu destino, recusando-se a seguir o mesmo caminho das outras que perderam tudo no mar. É  só aí que o milagre tão esperado pela Dona Dulce, professora da escola do cais, acontece. Dona Dulce que havia perdido as esperanças de tanto ver crianças seguirem o caminho do cais, seguirem o destino de Janaína.

"No cais o velho Francisco balança a cabeça. Uma vez, quando fez o que nenhum mestre de saveiro faria, ele viu Iemanjá, a dona do mar. E não é ela quem vai agora de pé no Paquete Voador? Não é ela? É ela, sim. É Iemanjá quem vai ali. E o velho Francisco grita para os outros no cais: Vejam! Vejam! É Janaína.
Olharam e viram. Dona Dulce olhou também da janela da escola. Viu uma mulher forte que lutava. A luta era seu milagre. Começava a se realizar. No cais os marítimos viram Iemanjá, a dos cinco nomes. O velho Francisco gritava, era a segunda vez que ele a via.
Assim contam na beira do cais."

Mais do que uma história triste, como o destino dos personagens, é uma história de superação; de encontrar seu eu no meio do caos.
Lembro-me de ter tido uma sensação de calmaria e de alegria ao terminar de ler. Não de alegria, mais de êxtase - de ser arrebatada da lucidez por uns segundos. Eu me senti bem.
Concordo com o final. Não haveria melhor.

Música no repeat!

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